Historia 1898

A fundação do clube

Na virada do século XIX, o remo era o esporte soberano no Rio de Janeiro, a capital da república. No dia 21 de agosto de 1898, um grupo de 62 rapazes, na sua maioria, imigrantes portugueses, reunido numa sala da Sociedade Dramática Filhos de Talma, no bairro da Saúde, decidiu fundar uma associação dedicada à prática do remo. A ata de fundação começa com as seguintes palavras históricas:
"Aos 21 dias do mês de agosto de 1898, às 2:30 horas da tarde, reunidos na sala do prédio da Rua da Saúde número 293 os senhores constantes do livro de presenças, assumiu a presidência o Sr. Gaspar de Castro e depois de convidar para ocuparem as cadeiras de secretários os senhores Virgílio Carvalho do Amaral como primeiro e Henrique Ferreira como segundo, declarou que a presente reunião tinha o fito de fundar-se nesta Capital da República dos Estados Unidos do Brasil, uma associação com o título de Club de Regatas Vasco da Gama (...)"
A ata de fundação prossegue relatando o procedimento adotado para eleger a primeira diretoria do clube.
Terminada a apuração, foi eleito para presidente o comerciante Francisco Gonçalves do Couto Junior, com 41 votos. A sessão terminou às 3:45 da tarde.
Dois meses mais tarde, em 24 de outubro, foi enviado o pedido de filiação à União Fluminense de Regatas.

A escolha do nome, pavilhão e emblema

Inspirados pelas celebrações do quarto centenário da descoberta do caminho marítimo para as Índias, os fundadores da nova agremiação lhe deram o nome de Club de Regatas Vasco da Gama, para cujo pavilhão foi escolhido o fundo preto, representando os mares ignotos do Oriente; atravessado por uma faixa branca, inicialmente horizontal, mas logo mudada para diagonal, representando a rota desbravada pelo almirante português; com uma Cruz de Malta no centro, símbolo ostentado pelas caravelas portuguesas da época dos "descobrimentos".
Em 1903, foi adotado um emblema circular que exibia uma caravela com a Cruz de Malta e, em 1922, foi criado o escudo atual, onde a caravela aparece no centro do fundo negro cortado pela diagonal branca, com as iniciais CR e VG entrelaçadas, respectivamente, acima e abaixo da faixa diagonal.

  
O primeiro uniforme usado pelos remadores vascaínos já tinha a faixa diagonal, porém na direção oposta á faixa do uniforme dos dias de hoje. A Cruz de Malta ficava no centro, e não no lado esquerdo do peito, conforme mostra esta ilustração publicada no Jornal do Brasil de 20 de maio de 1902.


O simbolismo da Cruz de Malta

A guisa de curiosidade, vale mencionar o duplo erro de interpretação que foi cometido na adoção da Cruz de Malta como símbolo do Vasco: o primeiro, heráldico; o segundo, histórico. Segundo os manuais de heráldica, a cruz escolhida para o emblema do Vasco é na realidade chamada de Cruz Patée, ou Pátea, segundo algumas traduções. A Cruz de Malta possui um formato diferente, no qual cada um dos quatro braços da cruz é bifurcado. Mas o fato é que o Estatuto do Clube sempre utilizou esta designação para o símbolo que representa o Vasco. Por outro lado, nem uma nem outra cruz nada tem a ver com Portugal e sua história, e muito menos com o navegador Vasco da Gama. A cruz que as suas naus portavam, assim como todas as caravelas portuguesas, era na realidade a Cruz de Cristo, instituída pelo Rei D. Diniz no século XIV, e que era outorgada aos navegadores lusos em reconhecimento aos seus feitos no além-mar.

 

A primeira sede

A primeira sede do Vasco ficava num barracão na Ilha das Moças (já desaparecida, aterrada para a construção do atual Cais do Porto).
Um ano depois da sua fundação, o clube quase acabou quando, devido a uma polêmica em torno de uma possível transferência da sede para a Praia de Botafogo, o seu primeiro presidente, Francisco Gonçalves do Couto Junior, renunciou e fundou o C.R. Guanabara, levando consigo a diretoria e todo o material que lhes pertencia, incluindo barcos e os uniformes, e deixando o clube na penúria. Mas o Vasco não só sobreviveu, como estava destinado a glórias que seus fundadores nem nos seus sonhos mais delirantes poderiam vislumbrar.

Criação do setor de futebol

O início do século XX testemunhou, além das vitórias obtidas no mar pelo Vasco, o surgimento de um novo esporte no Rio de Janeiro, importado da Inglaterra. Apesar de praticado principalmente por rapazes oriundos de familias abonadas, o football foi paulatinamente despertando o interesse da população em geral e sua prática se disseminando, embora sem inicialmente ameaçar a popularidade do remo.
Em 1913, desembarcou no Rio uma seleção de Lisboa, a convite do Botafogo FC, para a inauguração do seu campo na Rua General Severiano. O evento motivou diversos membros da colônia portuguesa a se organizar para a prática do esporte bretão, e três clubes de futebol foram fundados, todos, porém, de existência efêmera. Um deles, o Lusitânia, fundiu-se ao Vasco, trazendo no processo os seus sócios e patrimônio, que consistia de uniformes, chuteiras e bolas de futebol. Os entendimentos começaram a 11 de novembro de 1915, concretizando-se a 26 do mesmo mês e ano, depois da realização de várias assembléias, onde foram analisadas tanto posições favoráveis como contrárias, já que a resistência à criação de um setor de futebol no clube era grande por parte dos sócios mais tradicionais, entre os quais figurava o próprio presidente vascaíno. Acabou sendo necessária até uma modificação no estatuto do clube para que a iniciativa tivesse êxito.
Depois de efetivada a adesão do grupo do Lusitânia e da posse da nova diretoria eleita para o ano de 1916, foi feito o requerimento para a filiação à Liga Metropolitana de Futebol, que comunicou sua aprovação em 29 de fevereiro.

O uniforme


O uniforme do Lusitânia SC era semelhante ao da seleção de Lisboa: Camisa preta com punhos e golas brancas e calção branco. Após a absorção do Lusitânia pelo Vasco, este uniforme foi mantido, com uma pequena alteração, que foi a adição da Cruz de Malta em substituição á esfera armilar portuguesa no lado esquerdo do peito. O uniforme assim permaneceria até a década de 1940, quando a faixa diagonal branca usada desde o início pelas guarnições de remo foi incorporada. Data também dessa época o uniforme branco com a faixa diagonal negra.

A primeira partida oficial

Após começar a praticar o futebol no final de 1915, o Vasco não perdeu tempo e filiou-se à Liga Metropolitana para participar da temporada de 1916, sendo integrado à terceira divisão. E realmente começou por baixo: Na primeira partida oficial, uma derrota por 10 a 1 para o "valoroso" quadro do Paladino FC. O gol histórico - o primeiro da história do Vasco em partidas oficiais - foi marcado por Adão Antônio Brandão.

A primeira vitória

Apesar da goleada contundente sofrida na estréia, os vascaínos não desanimaram. No mesmo ano de 1916, no dia 29 de outubro, o Vasco obteve a sua primeira vitória no futebol, derrotando por 2 a 1 a equipe do River, no campo do São Cristóvão. Os gols foram de Cândido Almeida e Alberto Costa Junior. Uma vitória que surgiu em condições especiais, pois o River só pode contar com nove jogadores. Esta vitória não evitou, porém, a colocação final do Vasco em último lugar no campeonato. Pior que isso: Foram os únicos pontos conquistados. Era óbvio que a equipe precisava de mais do que apenas entusiasmo.

O verdadeiro clube do povo

Nos anos seguintes à estréia na terceira divisão, o nível do time vascaíno foi melhorando, certamente graças ao atrevimento de não discriminar negros e mulatos. Apesar de ser basicamente um clube de colônia, o Vasco seguia a boa tradição portuguesa da mistura, ao contrário dos tradicionais grandes clubes de futebol do Rio. Estes, via de regra, não somente não aceitavam indivíduos de cor em seus quadros sociais, como alguns chegavam ao extremo de admitir exclusivamente ingleses e seus descendentes - caso do Paysandu, campeão de 1912, e do Rio Cricket.
Ao contrário dos grandes clubes de futebol do Rio, desde a sua fundação o Vasco esteve aberto a brasileiros de todas as origens e classes sociais, além dos portugueses, tendo tido, inclusive, um presidente mulato ainda na época do remo, Cândido José de Araújo, em 1905-6.
O Lusitânia havia sido um clube fechado, só para portugueses, mas, ao ser absorvido pelo Vasco, foi a filosofia aberta deste que prevaleceu. Para reforçar a sua equipe de futebol, o Vasco ia recrutando sem discriminação aqueles que se sobressaíam nas peladas de subúrbio e nos clubes pequenos. Assim, enquanto os jogadores dos aristocráticos clubes grandes eram praticamente todos brancos ricos, a maioria acadêmicos, os jogadores do Vasco eram de profissão humilde, sendo que alguns mal sabiam assinar o nome. Anos mais tarde, o clube chegaria até a contratar um professor de gramática, satisfazendo uma exigência da Liga - leia-se, dos clubes rivais, sempre a procura de pretextos para hostilizar o Vasco.

A ascensão à primeira divisão

Apesar do Vasco haver terminado a sua participação na terceira divisão do campeonato de 1916 em último lugar, passou à segunda divisão do certame do ano seguinte, pois, devido a filiação de novos clubes à Liga Metropolitana, foi feita uma reformulação, resultando no aumento do número de clubes para dez em cada uma das três divisões. O Vasco permaneceu na segunda divisão até 1920. Para a temporada de 1921, houve nova modificação na estrutura das divisões. A primeira divisão foi dividida em duas séries, com sete clubes em cada uma: A série A com os sete primeiros colocados da primeira divisão de 1920, e a série B com os três últimos colocados da primeira divisão mais os quatro primeiros colocados da segunda. Como o Vasco tinha alcançado o quarto lugar na segunda divisão, foi classificado para a série B.
Finalmente, em 1922, o Vasco venceu as três categorias da série B - primeiro, segundo e terceiro quadros - proeza que deu ao Vasco a posse temporária da rica Taça Constantino, instituída naquele ano pela firma José Constante & Cia. Foi o primeiro troféu conquistado pelo Vasco no futebol. O Vasco conquistaria a posse definitiva da Taça Constantino em 1924, quando acumulou a maior pontuação nos campeonatos das três categorias durante os três anos em que a Taça foi disputada.
O título da categoria de primeiros quadros da série B de 1922 deu ao Vasco o direito de disputar a promoção à série A numa partida, chamada na época de "eliminatória", contra o último colocado da série A, que tinha sido o São Cristóvão. A partida terminou empatada e, como o regulamento não previa uma partida desempate, a Liga decidiu aumentar o número de participantes da série A de sete para oito, evitando desta maneira o rebaixamento do São Cristóvão e garantindo a participação do Vasco no campeonato do ano seguinte, na companhia de, entre outros, Flamengo, Fluminense, Botafogo e o América, clube que havia se sagrado "Campeão do Centenário" na série A.

O primeiro título e o início da rivalidade com o Flamengo

A princípio, os clubes grandes nem ligaram para a entrada do Vasco na série A em 1923. Que é que podia fazer um clube de segunda divisão, cuja maioria dos jogadores residiam em alojamentos na Rua Morais e Silva, ao lado dum campinho de treinamento tão ruim que nem para jogos oficiais servia? Os portugueses do Vasco, pensavam eles, que botassem no seu time quantos crioulos quisessem, mas tudo continuaria como sempre foi, com os brancos vencendo os campeonatos e os pretos nos seus lugares, nos clubes pequenos.
Só que o Vasco, graças a um forte regime de treinamentos ministrado pelo técnico uruguaio Ramon Platero, atravessou o primeiro turno sem perder um ponto sequer. E quanto mais vencia, mais os estádios se enchiam de gente que nunca tinha visto um jogo antes. O desprezo se transformava em inveja e as torcidas adversárias se uniam, a um só tempo humilhadas por verem seus galantes "players" superados por um "team de negros" rumo ao título invicto e frustradas por perderem dinheiro em apostas semanais com portugueses. O Vasco era um fenômeno: Com seu time brasileiríssimo, era acusado pelos adversários filo-britânicos de ser um intruso estrangeiro, ou pelo menos, português.
Com o Vasco já praticamente campeão, a questão era se alguém conseguiria tirar a sua invencibilidade. A invencibilidade caiu finalmente em um dos últimos jogos da temporada, contra o Flamengo, no que acabaria por ser a única derrota da brilhante campanha. O encontro foi conturbado e os vascaínos contestaram a estranha anulação, por parte do árbitro Carlito Rocha, do Botafogo, do gol que seria o de empate. Terminada a partida, disputada no estádio do Fluminense, os torcedores do Flamengo, aos quais se juntaram os de outros clubes, saíram em passeata pelas ruas desde as Laranjeiras em direção à Lapa, festejando como se tivessem ganho o campeonato. Pelo caminho, na Glória, "enfeitaram" um busto de Pedro Álvares Cabral com um colar de résteas de cebola, e chegando na Lapa, concentraram-se em frente ao restaurante Capela, tradicional reduto vascaíno, com um dos carros da procissão exibindo um tamanco de mais de dois metros, retirado da marquise de uma loja. Aí o pau comeu, e assim começou a rivalidade Vasco-Flamengo.

A perseguição racista dos clubes grandes contra o Vasco

Preocupados com a pujança do Vasco, que se manifestava claramente na proliferação dos seus adeptos não apenas no seio da colônia portuguesa, e dispostos a evitar que o campeão de 1923 repetisse a dose no ano seguinte, os clubes grandes iniciaram um movimento destinado a afastar o Vasco do campeonato, valendo-se dos mais aberrantes argumentos. Inicialmente, tentaram exigir dos clubes pequenos, inclusive o Vasco, que estes se submetessem a uma "investigação das posições sociais" de seus jogadores. Os clubes pequenos teriam que eliminar de seus quadros jogadores considerados profissionais ou que não fossem capazes de assinar as súmulas.
Ao terem sua proposta rejeitada, os clubes grandes então abandonaram a Liga Metropolitana e fundaram a Associação Metropolitana de Esportes Amadores. O ingresso do Vasco na AMEA foi recusado, sob a alegação de que não possuía um campo apropriado para jogos de campeonato. Contudo, foi apresentada ao Vasco uma lista de doze de seus jogadores que deveriam ser eliminados do clube para que sua filiação fosse aprovada. O Vasco, lavrando seu protesto contra a mal-disfarçada atitude racista dos clubes grandes, comunicou sua desistência de fazer parte da AMEA e teve mesmo que disputar o campeonato de 1924 pela Liga Metropolitana, o qual ganhou de maneira invicta, competindo com os outros clubes rejeitados pela nova entidade.

A construção do estádio de São Januário

Decididos a fazer do Vasco um clube grande, os vascaínos partiram então para a construção de um estádio, passando a angariar fundos entre 1924 e 26. Listas corriam pela cidade, onde toda gente assinava, dando a contribuição que podia. O êxito foi tanto que, ao final de 1926, oito mil novos sócios tinham ingressado no clube. Em 1925, foi adquirido um terreno numa colina em São Cristóvão, que havia sido ocupada no século XIX por uma chácara doada por D. Pedro I à Marquesa de Santos.
A construção do estádio coube a Cristiani & Nielsen, prestigiosa firma que pouco antes havia erguido o Jockey Club Brasileiro no hipódromo da Gávea. A pedra fundamental foi lançada no dia 6 de junho de 1926. Raul da Silva Campos era o presidente do Vasco. Menos de 11 meses depois, o clube entregava ao futebol brasileiro o estádio Vasco da Gama, mais tarde popularmente denominado de São Januário. A relação é apenas geográfica, pois tem esse nome a rua que é uma das principais vias de acesso ao estádio - foi, aliás, a única durante muito tempo, onde circulavam os bondes que levavam e traziam os torcedores - e em cujo final estão situados os portões das arquibancadas destinadas aos não-sócios.

O suspeito campeonato de 1926

Com a sua popularidade e seu quadro social crescendo rapidamente, e com o grande sucesso de seu plano de construção do estádio, o Vasco foi admitido na AMEA em igualdade de condições com os clubes grandes, fundadores da entidade, ainda em tempo para o campeonato de 1925. Nesse ano o Vasco obteve o terceiro lugar, com apenas dois pontos de diferença do campeão.
No ano seguinte, 1926, o Vasco conquistou pela primeira vez o Torneio Início e obteve o segundo lugar no campeonato, apenas um ponto atrás do São Cristóvão. Foram bastante estranhas as circunstãncias do único título carioca da história do São Cristóvão: Na partida do returno, o Flamengo ia derrotando o São Cristóvão por 3 x 1, no seu campo da rua Payssandu, quando o árbitro marcou um pênalti contra o time rubro-negro, originando-se então uma invasão de campo pela sua inconformada torcida. A partida foi suspensa pelo árbitro e posteriormente anulada por uma insistência inexplicável do Flamengo, que afinal ainda estaria em vantagem mesmo que a partida fosse reiniciada e o pênalti fosse convertido. Uma nova partida foi então marcada para depois da última rodada do campeonato. Uma vitória do Flamengo daria o título ao Vasco. Suspeitissimamente, a propalada mística da camisa rubro-negra não entrou em campo: o São Cristóvão aplicou uma folgada goleada de 5x1 e conquistou o título.

A inauguração de São Januário

No jogo inaugural do seu estádio, na ensolarada tarde de 21 de abril de 1927, o Vasco enfrentou a equipe do Santos, famosíssima então pela força arrasadora do seu ataque. O Santos venceu por 5 a 3, após um empate de 1 a 1 no primeiro tempo. Evangelista, dois, Feitiço, Omar e Araken marcaram pelos santistas e Negrito - o primeiro gol do Vasco no seu novo estádio -, Galego e Paschoal pelos cruzmaltinos.
Antes da partida houveram várias solenidades, culminando com o corte de uma fita simbólica pelo aviador português Sarmento de Beires, realizador da travessia Lisboa-Rio comandando o avião "Argos". Várias autoridades se fizeram presentes, inclusive o presidente da República, Washington Luís, que ironicamente havia negado permissão ao Vasco para a importação de cimento da Bélgica para a construção do estádio - atitude completamente arbitrária e de má vontade, considerando-se que o presidente havia concedido esta permissão para o Jockey Club Brasileiro, que havia sido inaugurado no ano anterior.
Os refletores foram inaugurados praticamente um ano depois, em 31 de março de 1928, com a realização de um amistoso em que o Vasco venceu o Wanderers, do Uruguai, por 1 a 0, gol olímpico do ponta-esquerda Santana.
Na época da sua inauguração, São Januário era o maior estádio da América do Sul e seria o maior do Brasil até a inauguração do Pacaembu em 1940. Jogos da seleção brasileira foram regularmente realizados em São Januário até a inauguração do Maracanã em 1950, destacando-se a conquista do Campeonato Sul-Américano pelo Brasil em 1949. Ainda hoje, São Januário é o maior e o melhor estádio de clubes do Rio de Janeiro. Seu recorde de público é de 40.209 pagantes, registrado na partida Vasco 0 x Londrina 2, em 19 de fevereiro de 1978.
Além de sua importância esportiva, o estádio foi palco de diversos eventos marcantes da história do Brasil, como comícios políticos e assembléias de sindicatos de trabalhadores. Foi durante um histórico comício de 1º de maio em São Januário que o presidente Getúlio Vargas anunciou as primeiras leis sociais do Brasil.

O primeiro grande time

O Vasco voltou a ser campeão carioca em 1929, após uma sensacional decisão em melhor-de-três contra o América. Depois de empates em 0 a 0 e 1 a 1, o Vasco conquistou o título com uma goleada de 5 a 0 sobre os rubros. O Vasco apresentou a sua primeira grande equipe, onde brilhavam vários jogadores da seleção brasileira, como o goleiro Jaguaré, os zagueiros Brilhante e Itália, o centromédio Fausto, e os atacantes Paschoal e Russinho. Quatro destes jogadores participaram da primeira Copa do Mundo no ano seguinte, no Uruguai, onde Fausto recebeu da imprensa uruguaia o apelido de "Maravilha Negra". Com o seu elegante estilo de matadas no peito, exímio controle de bola e passes longos, Fausto foi o primeiro de uma escola brasileira de jogadores clássicos de meio-campo.
No ano seguinte, o Vasco chegou na reta final do campeonato na luta pelo título, mas este foi perdido num jogo contra o Sírio e Libanês, que tinha um zagueiro, Aragão, que era famoso por usar chapinha de aço no bico das chuteiras. Nesse dia, incentivado por um prêmio extra de 500 mil réis oferecido pelo Botafogo, interessado na derrota do Vasco, Aragão quebrou quase todo o time do Vasco, que perdeu o jogo e a chance de chegar ao bicampeonato.
O Vasco novamente deixou o escapar o título do campeonato em 1931, quando, com um ponto de vantagem sobre o América na última rodada, perdeu em São Januário para o Botafogo por 3 a 0. Simultâneamente, o América derrotou em seu campo o Bonsucesso por 3 a 1 e conquistou o título. Um fato curioso foi que, como não existiam transmissões esportivas pelo rádio naquela época, os festejos por parte dos rubros só começaram muito depois do encerramento das partidas, quando os dirigentes ficaram sabendo da derrota do Vasco pelo telefone.

A primeira excursão à Europa

Em 1931, o Vasco tornou-se o primeiro clube carioca, e o segundo brasileiro, a realizar uma excursão à Europa. Antes do Vasco, somente o Paulistano, que em 1925 havia cumprido uma vitoriosa temporada na França, sofrendo apenas uma derrota. O Vasco, reforçando a sua equipe com os jogadores Nilo, Carvalho Leite e Benedito, do Botafogo, e Fernando, do Fluminense, jogou 12 partidas em Portugal e na Espanha, de junho a agosto, tendo obtido 8 vitórias, 1 empate e 3 derrotas, com 45 gols pró e 18 contra, resultados que beneficiaram a reputação do futebol brasileiro. Jaguaré e Fausto, inclusive, encantaram os espanhois e foram imediatamente contratados pelo Barcelona. Ambos acabaram voltando para o Vasco - Fausto, em menos de dois anos, mas Jaguaré prosseguiu por mais tempo na Espanha e depois na França, onde tornou-se ídolo do Olimpique Marseille. Tristemente, ambos morreram na miséria, após o fim de suas carreiras.

A cisão do futebol

Em 1933, houve em vários estados uma cisão entre a Confederação Brasileira de Desportos, que advogava o amadorismo, e os clubes que desejavam a profissionalização do futebol. No Rio, todos os clubes grandes e médios se posicionaram contra a CBD, e formaram a Liga Carioca de Futebol, profissionalista, com exceção do campeão do ano anterior, o Botafogo, que permaneceu na AMEA.
Na LCF, o Vasco foi campeão em 1934 com outro grande time, que contava com o goleiro Rei, o grande Domingos da Guia, Fausto, e a dupla de atacantes da Seleção Leônidas e Gradim, contratados ao Bonsucesso. Domingos, que começara no Bangu, havia jogado no Vasco em 1932, saído no ano seguinte para o Nacional de Montevidéu e voltado ao Vasco em 1934. Depois do campeonato, transferiu-se ao Boca Juniors, tendo alcançado o feito, muito comentado na época, de ter sido campeão em três países diferentes em pouco mais de um ano. Leônidas tornou-se um dos profissionais que foram contratados pela CBD, que praticava o amadorismo marrom, para participarem da Copa de 1934. Na volta, Leônidas foi transferido ao Botafogo.
Aconteceu então, em fins de 1934, uma briga entre Vasco e Flamengo, originada no remo. Por ocasião da disputa de uma regata, o Flamengo protestou contra a classificação de um páreo vencido pelo Vasco. Outros clubes, entre os quais o Fluminense, que, apesar de não disputarem no remo, eram filiados à federação de remo por esta também administrar a natação, saltos ornamentais e polo aquático, tomaram o partido do Flamengo. Os cartolas do Botafogo, aproveitando-se deste impasse, sugeriram aos cartolas do Vasco que recorressem à CBD. Assim, restou ao Vasco largar Flamengo, Fluminense e América e juntar-se ao Botafogo, formando uma nova liga em 1935, a Federação Metropolitana de Desportos, sob os auspícios da CBD, que nessa altura já havia passado a aceitar o profissionalismo. Outros clubes seguiram o caminho do Vasco, entre eles São Cristóvão e Bangu. Pela FMD, o Vasco foi o campeão de 1936, quebrando a série de quatro campeonatos consecutivos (em ligas diferentes) do Botafogo. A decisão, que adentrou pelo ano de 1937, foi numa melhor de três contra o Madureira, tendo o Vasco vencido a última partida por 2 a 1, dois gols de Feitiço.

A pacificação do futebol carioca

Chegava-se finalmente a 1937 e a CBD era a virtual vencedora da guerra desportiva dos cinco anos. A Copa do Mundo da França se aproximava e a unificação do futebol era imprescindível. A pacificação começou pelo futebol carioca e partiu de uma feliz iniciativa dos presidentes do Vasco - Pedro Pereira Novaes - e do América - Pedro Magalhães Corrêa. Em São Januário ainda hoje há, ao lado da escadaria principal que dá acesso às sociais do Clube, uma placa comemorativa com o nome destes presidentes que contribuíram para a pacificação do nosso futebol.
A fundação da Liga de Football do Rio de Janeiro ocorreu na sede da Associação dos Empregados do Comércio, em 29 de julho, desaparecendo assim, pela fusão, a LCF e a FMD. Para a comemoração do histórico evento, foi marcada para 31 de julho, em São Januário, a primeira partida de uma melhor-de-três entre Vasco e América, que passou a ser denominado "Clássico da Paz". O Vasco venceu por 3 a 2, e renda bateu o recorde na cidade do Rio de Janeiro, mesmo com os associados dos dois clubes entrando sem pagar.
O acordo estendeu a pacificação também ao âmbito nacional, permanecendo a CBD como única entidade e sendo extinta a FBF, que era a entidade rival. Com isso, a paz logo alcançou os demais estados brasileiros.

A Praga do Arubinha

Em meados do campeonato de 1937, o Vasco lutava pelas primeiras colocações e enfrentaria o Andaraí numa noite chuvosa. Por causa de um acidente de trânsito, a delegação do Vasco chegou com um longo atráso ao estádio do Fluminense. Se o Andaraí quisesse, teria ganho os pontos, mas resolveu aguardar o adversário. O agradecimento foi uma impiedosa goleada de 12 a 0.
Segundo o folclore, na manhã seguinte, Arubinha, o ponta-esquerda do Andaraí, entrou de fininho em São Januário e enterrou no campo um sapo com a boca costurada, rogando uma praga de que o Vasco ficaria 12 anos sem ser campeão. O matreiro Arubinha sempre negou ter feito o que diziam, mas o fato é que o Vasco passou a perder jogos inesperados e acabou a temporada em terceiro lugar, oito pontos atrás do campeão, o Fluminense.

Outros craques vascaínos da década de 1930

Além dos craques já citados, como Fausto, Rei, Domingos da Guia, Itália e Leônidas, alguns dos outros grandes craques que vestiram a camisa negra cruzmaltina naqueles tempos iniciais do profissionalismo foram Feitiço, famoso atacante paulista; Luís Carvalho, um gaúcho que, apesar de mais parecer um pugilista, era muito ágil e veloz; Bahia, meia que chegou a jogar na seleção; e Niginho, artilheiro do campeonato em 1937 e reserva da seleção que conquistou o terceiro lugar na Copa de 1938. Depois veio o uruguaio Villadoniga, que apesar de leve e de jogar com chuteira de lona, tinha um chute potentíssimo. O problema era o seu temperamento irritadiço. Como na época havia o esdrúxulo regulamento de que jogador expulso podia ser substituído, os adversários - especialmente o Flamengo - começavam os jogos com um jogador reserva para marcar Villadoniga com a missão específica de provocá-lo. Ao fim de dez minutos, no máximo, ambos estavam expulsos, e enquanto o Vasco substituía o impetuoso gringo por um reserva, o adversário colocava o titular.
Nessa época, o Vasco tinha uma equipe com vários argentinos e uruguaios, entre os quais Figliola e Dacunto, que formavam com o centerhalf Zarzur uma linha média de muito prestígio. Conhecidos como os "Três Mosqueteiros", faziam e desfaziam de técnicos, escalando, barrando e até mesmo contratando e dispensando jogadores. Exerceram essa autoridade até o dia em que Ondino Viera assumiu o cargo de treinador, em substituição ao gaúcho Telêmaco Frazão. Um dos primeiros atos de Ondino foi se livrar dos três e recomeçar do zero. Começava uma era que merece um capítulo à parte.

A formação do Expresso da Vitória

Corria o início da década de 1940 e parecia que a implacável "praga do Arubinha", de 12 anos sem títulos, estava se cumprindo. Chegaram até a revolver o gramado de São Januário, mas o tal sapo com a boca costurada que, dizia-se, Arubinha havia enterrado, nunca foi encontrado. Finalmente, os dirigentes do Vasco, comandados pelo presidente Ciro Aranha, desistiram de procurar o sapo e resolveram partir para uma série de contratações que iniciaram a fase mais brilhante da história do Vasco, em termos de conquistas.
Primeiramente, foi contratado um novo técnico de experiência internacional, o uruguaio Ondino Viera, e então feita uma renovação no plantel de jogadores. Vários jogadores jovens, talentosos e ainda por se consagrar foram adquiridos. Do São Cristóvão veio Augusto, que seria o capitão do time e da seleção brasileira de 1950, com sua grande capacidade de liderança e espírito de equipe. Do Canto do Rio veio Eli; Do América, o "príncipe" Danilo; Do Madureira, o trio atacante conhecido como os "Três Patetas", Lelé, Isaías e Jair; Do Sport Recife, Ademir e Djalma; E assim por diante.

O gol de Valido

Em 1944, depois de vencer os Torneios Municipal e Relâmpago, que funcionavam como aperitivo para o campeonato carioca, o Vasco chegou ao último jogo do campeonato na liderança ao lado do Flamengo, que lutava pelo tricampeonato. O jogo, exatamente contra o Flamengo, no estádio da Gávea, foi decidido no finzinho do segundo tempo a favor do time da casa, com um gol de cabeça do ponta Valido, muito contestado até hoje. Todos os vascaínos presentes na Gávea naquela tarde juram que viram Valido se apoiar nas costas do half esquerdo Argemiro ao cabecear. Já os rubronegros unânimemente juram que não viram tal fato. Exceto o compositor e speaker Ary Barroso, que, aos berros no microfone da Rádio Tupi, lamentava que o tento não tivesse ainda por cima sido marcado com a mão.
Nas semanas após a partida, filas enormes se formaram no Cineac-Trianon, um cinema no centro da cidade, para assistir a um trecho de filme que mostrava o lance que resultou no gol de Valido. Mas o filme era tão tremido e fora de foco que dava margem a todo tipo de interpretação, e assim ninguém mudou de opinião.
Recentemente, o radialista Luiz Mendes, cuja idoneidade está acima de qualquer questionamento, revelou no seu livro 7 Mil Horas de Futebol (pag. 37) o seguinte fato:
Dizem ainda hoje que Valido se apoiou em Argemiro, half-esquerdo do Vasco. A foto mostra claramente Valido apoiando-se em cima de seu patrício Rafanelli, um grande zagueiro argentino que atuava pelo Vasco. Essa foto foi sempre muito escondida, principalmente por companheiros da chamada imprensa rubro-negra. Mas eu a tenho. Vê-se na foto o mundo de gente que foi à Gávea e Valido cabeceando, apoiado em Rafanelli com Argemiro saltando um pouco atrás, daí a confusão.
Infelizmente a foto não se encontra reproduzida no livro de Luiz Mendes. Seguindo o provérbio "antes tarde do que nunca", o consagrado radialista bem que poderia disponibilizar esta raríssima foto ao público, e especialmente aos Web sites vascaínos, para fins de divulgação na Internet, para que assim todos possam conhecer a prova incontestável de que o infame gol de Valido não deveria ter valido.

Proezas do Expresso da Vitória

A perda do título de 1944 para o rival foi frustrante para os vascaínos, mas o fato irreversível é que a semente do Expresso da Vitória estava lançada. Em 1945 o Vasco ganhou de forma invicta o primeiro de uma série de 5 campeonatos em 8 anos: 1945, 1947, 1949, 1950 e 1952, sendo que os de 1947 e 1949 também foram invictos. Nesse período, o Vasco também conquistou o tetracampeonato do Torneio Municipal de 1944 a 1947 e dois Torneios Relâmpagos, em 1944 e 1946. Porém a maior proeza do Expresso foi a conquista invicta do Primeiro Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões, em 1948, no Chile.
O Vasco era a base da seleção brasileira. Tantos craques tinha o Vasco, que muitas vezes o Expresso ia excursionar e permanecia a disputar as competições locais o Expressinho, formado por reservas, mas que mesmo assim frequentemente superava os adversários. Todo ano o Vasco apresentava pelo menos uma nova atração de renome. Dentre as muitas linhas atacantes do Expresso, qual foi a melhor? A linha de 1945, com Ademir (Djalma), Lelé, Isaías, Jair e Chico? A de 1947, com Djalma, Maneca, Friaça (Dimas), Lelé (Ismael) e Chico? A de 1949, com Nestor, Maneca, Heleno (Ipojucan), Ademir e Mário? Ou a de 1950, com Tesourinha (Alfredo), Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico?
Estes ataques eram verdadeiras indústrias de gols, não raramente alcançando escores estapafúrdios, sendo o maior deles um 14 a 1 sobre o Canto do Rio em 1947, que estabeleceu o recorde de maior goleada na fase profissionalista do futebol carioca.

As estrelas douradas na bandeira

Em 1945, para eternizar as conquistas invictas dos campeonatos de remo e futebol do Rio de Janeiro, a bandeira do Vasco sofreria uma alteração oficial, registrada no Artigo 7 do Estatuto do Clube:
    Art. 7º - O pavilhão do Clube é preto, com uma faixa branca em diagonal partindo do canto superior do lado da tralha, a Cruz de Malta em vermelho no centro e, na parte superior, uma estrela dourada simbolizando a conquista dos Campeonatos Invictos de Mar e Terra no ano de 1945. As cores da bandeira e a Cruz de Malta serão reproduzidas nos uniformes, emblemas e insígnias usadas pelo clube.
    Parágrafo único - Consideram-se aprovados os moldes do pavilhão, flâmula e emblema anexos ao presente Estatuto.
O Vasco viria a conquistar de maneira invicta o campeonato de futebol do Rio de Janeiro em outras três oportunidades - 1947, 1949 e 1992. Em cada uma dessas ocasiões, mais uma estrela dourada foi adicionada extra-oficialmente à bandeira, sem que houvessse efeito retroativo a 1924, quando o Vasco também foi campeão invicto.
Porém, a estrela relativa a 1945 permaneceu como a única estrela oficial por muito tempo. As de 1947 e 1949 não eram reconhecidas no Estatuto, inclusive aquele que resultou das reformas aprovadas em 18 de outubro de 1967. Não obstante, no início da década de 1990, o uniforme passou a exibir três estrelas acima da cruz de malta e, depois do campeonato invicto de 1992, a quarta estrela foi acrescentada, tanto à bandeira quanto ao uniforme.
Quando o Vasco conquistou o seu terceiro título brasileiro, uma quinta estrela foi acrescentada. Surgiu então a explicação de que as estrelas passaram a simbolizar o seguinte:
Uma estrela pelos Campeonatos Invictos de Terra e Mar em 1945
Uma estrela pelo Campeonato Sul-Americano de 1948
Três estrelas pelos Campeonatos Brasileiros de 1974, 1989 e 1997
A partir daí, a mania de adicionar estrelas não parou mais:
Sexta estrela: Copa Libertadores de 1998
Sétima estrela: Copa Mercosul de 2000
Oitava estrela: Campeonato Brasileiro de 2000
Tudo isso indica, provavelmente, que o Artigo 7 do Estatuto foi novamente reformado para que as estrelas adicionais fossem oficialmente adotadas (a ser pesquisado).

Ademir, Flávio Costa e a "diagonal"

Em 1946, o Vasco achou que podia se dar ao luxo de vender Ademir para o Fluminense por possuir atacantes demais, mas acabou pagando caro por isso. Com Ademir o Fluminense foi campeão. Porem, no início de 1948, o "Queixada" estava de volta ao Vasco, e tornou-se o maior artilheiro da história do clube... até ser superado por Roberto Dinamite algumas décadas mais tarde.
Nessa época o técnico do Vasco já era Flávio Costa, que havia dirigido o Flamengo naquela decisão de 1944. Flávio Costa criou um novo sistema de jogo, o qual denominou de "diagonal", que na verdade não passava de um WM torto, com a numeração modificada e com um dos angulos inferiores do "W" atacante mais avancado. Este papel do ponta de lança vindo de trás, penetrando em alta velocidade para aproveitar os lançamentos, caiu sob medida para Ademir, que, entre outras qualidades, era insuperável no pique com a bola sob controle (chamado na época de "rush") e infalível nas finalizações.
A diagonal representou uma revolução no taticamente atrásado futebol brasileiro, cujos clubes sem exceção utilizavam uma mistura de 2-3-5 com WM que poderia ser descrito como WW e, assim como a seleção brasileira, viviam apanhando dos seus similares platinos, muitas vezes por goleada. Esta rotina começou a mudar em 1948...

Campeão Sul-Americano de Clubes Campeões

Corria o ano de 1948, quando o Vasco foi convidado a disputar o I Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeoes, no Chile. Participaram os campeoes de sete países do continente, jogando num turno único, todos contra todos, contando pontos corridos. Ainda não havia a Copa Libertadores, e essa foi a primeira vez que se criou uma competição com o objetivo de apontar um campeão sul-americano. Pois o Vasco trouxe o caneco, mais uma vez invicto para não perder o costume, mesmo tendo contra si arbitragens tendenciosas e o desfalque de Ademir, que sofreu uma fratura no pé logo no princípio do torneio. Na final dramática contra o River Plate - "La Máquina", como era conhecido na Argentina - um empate sem abertura de contagem garantiu o título do Vasco.
Esta conquista, a mais significativa do Expresso da Vitória, é tembem um marco histórico por ter sido o primeiro título conquistado fora do país por qualquer equipe brasileira, incluindo a Seleção.

Cafezinho "batizado" e pó-de-mico

Em 1948, o Vasco teve a chance de conquistar o bicampeonato carioca, mas perdeu a final para o Botafogo em General Severiano, quando, segundo história apregoada pelos jogadores cruzmaltinos, antes do jogo um servente do Botafogo veio cordialmente ao vestiário do Vasco oferecer cafezinho. O café teria sido "batizado" com algum sonífero, já que a maioria dos jogadores do Vasco alega ter sentido uma terrível sonolência durante todo o primeiro tempo... Então, antes do intervalo, alguém disfarcadamente penetrou no vestiário do Vasco e espalhou pó-de-mico. Durante o segundo tempo, os jogadores não sabiam se dominavam a bola ou se se coçavam, e no final o resultado foi 3 a 1 para o Botafogo, mesmo tendo este jogado desde o início do segundo tempo sem o zagueiro Gérson, contundido (substituições não eram permitidas).

Jogos marcantes da temporada de 1949

A sensação em São Januário em 1949 foi a presenca do inconfundível Heleno de Freitas no comando do ataque, que bateu mais um recorde ao marcar 84 gols em 20 jogos do campeonato carioca. Desta vez o Vasco não deu colher e voltou a ser campeão invicto, a exemplo de 1945 e 47. Um jogo inesquecível desta temporada aconteceu em São Januário contra o Flamengo, que desde a decisão de 1944 não sabia o que era ganhar do Vasco. O Vasco começou perdendo por 2 a 0 e parecia o fim do tabu, mas no final o placar indicava nada menos do que Vasco 5 a 2. Esta derrota desencadeou uma tremenda crise na Gávea, e, segundo dizem, a camisa do Jair Rosa Pinto foi queimada pela torcida rubronegra, desesperada por mais uma derrota para o Vasco. O Flamengo somente voltaria a derrotar o Vasco em 1951, após a volta de Flávio Costa ao clube.
Causou também grande repercussão a vitória sobre o Arsenal, primeiro time da primeira divisão inglesa a visitar o Brasil. O Arsenal, campeão inglês do ano anterior e considerado um dos times mais poderosos do Reino Unido, chegou botando banca, venceu o Corinthians e empatou com o Palmeiras em São Paulo e, em sua primeira partida no Rio, venceu com facilidade um combinado Fluminense-Botafogo. Coube ao Vasco mostrar aos ingleses o que o futebol brasileiro tinha de melhor, derrotando-os por 1 a 0, gol do ponta-direita Nestor.

A base da seleção vice-campeã mundial de 1950

Na Copa de 1950, disputada no Brasil, a seleção brasileira era tida como a melhor do mundo, mas acabou deixando o título escapar em pleno Maracanã, para o Uruguai. Apesar disso, ninguém nega a qualidade daquele time, que contava com seis jogadores do Vasco na sua habitual formação titular - Barbosa, Augusto, Danilo, Maneca, Ademir (artilheiro da Copa) e Chico - e dois entre os reservas - Eli e Alfredo. Mais dois do elenco, Friaça e Jair, eram ex-jogadores do Expresso da Vitória. O ponta vascaíno Tesourinha havia sido cortado às vésperas da Copa por contusão, e o atacante Ipojucan estava pré-selecionado, mas acabou sobrando quando o técnico Flávio Costa, também do Vasco, reduziu o grupo para 22 jogadores. Até o massagista Mario Américo era do Vasco.
Menos de um ano depois da tragédia da Copa de 1950, o Vasco realizou uma excursão ao Uruguai, deu de 3 a 0 no Peñarol - a base da seleção uruguaia campeã mundial - e, no Rio, ganhou de 2 a 0 tanto do Peñarol como do Nacional - que completava aquela seleção - lavando a alma dos brasileiros.

O primeiro campeonato do Maracanã

Assim que foi encerrada a Copa de 1950, teve início o primeiro campeonato carioca da era do Maracanã. O Vasco perdeu seus três primeiros clássicos, mas recuperou-se e não sofreu mais nem um empate sequer. A equipe chegou à última rodada com um ponto de vantagem sobre o América e o derrotou por 2 a 1, com dois gols de Ademir, sagrando-se bicampeão carioca.

O ultimo título do Expresso da Vitória

Em 1952, o Vasco, que atingira seu ponto técnico mais alto dois anos antes, partiu para novas mudanças no elenco, não sem antes ter o seu canto do cisne, ao conquistar por antecipação o campeonato carioca. Apesar de desacreditado pela imprensa, que considerava o Expresso um time "velho", o Vasco se sagrou campeão na penúltima rodada, ao vencer o Bangu por 2 a 1. Após o último jogo, em São Januário contra o Olaria, o técnico Gentil Cardoso, ao ser carregado nos ombros em triunfo pela torcida, não perdeu a oportunidade de dar mais uma de suas famosas tiradas, declarando: "Eu estou com as massas, e as massas derrubam até governo". Foi demitido no dia seguinte. Porém era chegada a hora de substituir glórias antigas por jovens promessas.

A renovação do plantel e uma nova tática

Depois da era do Expresso da Vitória, o Vasco tratou de formar mais um time vencedor, uma mescla de jogadores contratados, como Paulinho de Almeida, Bellini, Válter Marciano, Pinga e o paraguaio Parodi, e outro feitos em casa ou trazidos das divisões de base de outros clubes, como Orlando, Coronel, Sabará e Vavá. Em 1955, do mítico Expresso da Vitória só permaneciam no elenco Maneca, Dejair e o grande artilheiro Ademir. Ademir se despediria do futebol no ano seguinte, após a volta do Vasco de uma excursão à Europa.
Flávio Costa voltou à direção da equipe em 1953 com a missão de comandar a transição e levar o time a novas conquistas. Porém, com campanhas de altos e baixos nos campeonatos cariocas, as conquistas almejadas não vieram. No campeonato carioca de 1955, que se alongou pelos primeiros meses de 1956, o Vasco liderou por várias rodadas e terminou por conquistar o maior número de pontos. Todavia, a fórmula da competição era a de três turnos separados e o Vasco não conseguiu vencer nenhum deles. Após uma derrota para o Fluminense, que alijou o clube da disputa do terceiro turno, Flávio Costa foi demitido. Logo após o término do campeonato, foi contratado o estrategista Martim Francisco, que por um triz não levara o América ao título. Anos antes, com o Vila Nova, em Minas Gerais, Martim havia dado forma definitiva ao sistema 4-2-4. O técnico iria utilizar esse sistema de forma mortífera no Vasco.
Com o time renovado, o Vasco voltou a conquistar um título carioca em 1956. O sabor especial ficou por conta de, numa repetição do que ocorrera em 1945, ter impedido o tetra do Flamengo, o favorito ao título antes do início da competição. A conquista vascaína veio por antecipação na penúltima rodada, devido a uma combinação de resultados: A vitória de virada sobre a perigosa equipe do Bangu por 2 a 1, com dois gols de Vavá, e a derrota do Flamengo para o Botafogo no dia seguinte.

Títulos internacionais do Vasco nos anos 50

Na década de 1950, o Vasco foi um dos clube brasileiros mais convidados a disputar torneios no exterior. Entre os torneios internacionais conquistados, encontram-se o torneio internacional do Chile em 1953, dois torneios internacionais no Rio naquele mesmo ano, e culminando em 1957 com as conquistas dos Torneios de Lima e Santiago, na América do Sul, e do Torneio de Paris e da Taça Teresa Herrera, durante uma arrasadora excursão a Europa.
Nessa excursão, além de vencer o todo-poderoso Real Madrid de Di Stéfano e outros craques, bicampeão europeu na época, por 4 a 3, na final do Torneio de Paris, o Vasco obteve goleadas empolgantes sobre o Atlético Bilbao por 4x2, que lhe valeu a Taça Teresa Herrera, sobre o Barcelona por 7 a 2 e sobre o Benfica por 5 a 2. O técnico Martim Francisco pegou as equipes estrangeiras totalmente desprevenidas com a sua tática, que utilizava a descida dos homens de meio-campo para as conclusões como fator surpresa. Os apoiadores Laerte e Válter Marciano acabaram entre os principais artilheiros da excursão. Válter, inclusive, foi imediatamente contratado por um clube espanhol, mas poucos anos depois faleceu tragicamente num acidente automobilístico.

1958, um ano de grandes conquistas

Em 1958, o Vasco forneceu três jogadores á seleção campeã mundial, Bellini, Orlando e Vavá. Naquele ano glorioso, o Vasco conseguiu finalmente conquistar pela primeira vez o Torneio Rio-São Paulo, título do qual havia chegado muito perto em outras oportunidades durante a década, e venceu o campeonato carioca de forma particularmente emocionante. Faltando duas rodadas, o Vasco levava quatro pontos de vantagem sobre Flamengo e Botafogo, mas perdeu as duas últimas partidas exatamente para estes adversários. Foi então necessário um supercampeonato entre os três, que também terminou empatado, sendo então disputado um super-supercampeonato, finalmente vencido pelo Vasco, já depois de iniciado o ano de 1959.
O Vasco contava com a melhor defesa do país e que todo mundo sabia de cor: Paulinho, Bellini, Orlando e Coronel. A defender o arco, estava de volta o veterano Barbosa, considerado por muitos o melhor goleiro da história do clube. Mais uma vez o Vasco tinha um grande número de atacantes de categoria no seu plantel e se deu ao luxo de vender o campeão mundial Vavá para o Atlético Madrid, ainda no início do campeonato. Mas ficavam Almir, Delém, Wilson Moreira, Roberto Pinto e Valdemar, que se revezaram no time titular nas posições do miolo do ataque, além dos pontas Sabará e Pinga, em ótima forma.

A escassez de craques na década de 1960

Almir tornou-se o grande ídolo vascaíno, mas acabou se envolvendo numa série de episódios que deram-lhe a fama de jogador violento. Primeiro, foi o pivô de um enorme sururu no jogo Brasil 3x1 Uruguai, no Campeonato Sul-Americano de 1959 em Buenos Aires. Cinco meses depois, numa partida contra o América, houve um lance de bola dividida com o jogador Hélio, que saiu com a perna fraturada e nunca mais voltou a jogar. Apesar disso, a categoria do "Pernambuquinho" era incontestável, chegando a ser chamado de "Pelé Branco". Finalmente, em março de 1960, o Vasco teve que o liberar mediante uma proposta irrecusável por parte do Corinthians.
O Vasco também não resistiu a outras propostas que acabaram tirando do clube as suas principais estrelas. Para reforcar o time, uma grande quantidade de jogadores "bonzinhos" ia sendo contratada e, na medida em que iam fracassando, eram substituídos por mais "bonzinhos". Por outro lado, a qualidade da prata da casa, que durante décadas havia sido constituída por craques em profusão, começou a decair, e o clube entrou numa longa fase negativa, agravada pela tensão política na administração.
Durante a década de 1960 os melhores jogadores projetados pelo clube foram os zagueiros Brito e Fontana, que fariam parte da seleção tricampeã mundial em 1970 após deixarem o clube no ano anterior, e o atacante Célio, que, depois de chegar a ser testado na seleção, foi vendido para o Nacional de Montevidéu, onde tornou-se um ídolo. Poucos craques para quem estava acostumado a tanta fartura.

Um cemitério de técnicos

Em 1961, o Vasco estava na luta pelo título estadual, mas, dependendo de uma simples vitória sobre o Olaria dentro de São Januário para manter suas chances, acabou perdendo por 3 a 2, resultado que causaria impacto na campanha eleitoral, que fervia. Técnicos passaram a ser contratados e demitidos em pouco tempo, vítimas da impaciência da diretoria e da torcida. Formou-se a lenda de que o Vasco era um cemitério de técnicos.
De 1960 a 1969, o Vasco trocou de técnico nada menos do que 22 vezes. Durante este período, o único que permaneceu no cargo por duas temporadas foi Zezé Moreira, quando o Vasco conquistou seus únicos títulos significativos da década: A primeira Taça Guanabara, torneio criado em 1965 para apontar o concorrente carioca na Taça Brasil, e o torneio Rio-São Paulo em 1966, no qual terminou campeão empatado com Botafogo, Santos e Corinthians (não houve decisão). Na Taça Brasil de 1965, o Vasco perdeu a final para o Santos, que naquela altura conquistava o pentacampeonato da competição.
Depois de Zezé Moreira, o outro técnico que levou o time a boas campanhas foi Paulinho de Almeida, ex-lateral-direito do clube. Em 1968, sob sua dire¸ão, o Vasco foi vice-campeão carioca e vice do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, empatado com Palmeiras e Internacional. Boas campanhas, porém faltou o título ansiado por todos em São Januário.

O fim da espera pelo título carioca

O Vasco sempre foi um clube agitado por crises políticas, mas as dos anos 60 realmente abalavam o clube. Uma das maiores crises da história do Vasco aconteceu em 1969, com direito a cassação de presidente, muros pichados, coisa realmente séria. Entretanto, no ano seguinte, com a política interna pacificada, voltaria ao seu lugar de honra no futebol carioca, com o time dirigido pelo velho e sábio Tim. No campo, os destaques ficaram por conta do "Batuta" Silva e o grande goleiro argentino Andrada, que pelo que realizou na sua passagem no clube de 1969 a 1976 se constituiu num dos maiores goleiros que já defendeu o arco do Vasco. Cruelmente, a história lhe reservou a dúbia honra de ter tomado o milésimo gol de Pelé.

Pelé e o Vasco

Numa partida no Maracanã contra o Santos pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1969, Andrada fechava o gol, evitando em várias oportunidades o milésimo gol do Rei. O escore de 1 a 1 foi mantido até quase o final da partida, quando aconteceu um pênalti sobre Pelé, e assim Andrada foi finalmente batido pela cobrança do próprio Pelé. O goleiro saltou para o canto certo e por milímetros não conseguiu desviar a bola. A partida foi interrompida para que homenagens pudessem ser prestadas a Pelé, que deu uma volta olímpica no estádio vestindo uma camisa do Vasco com o número 1000 nas costas.
E por falar no maior jogador de todos os tempos, abra-se um parêntese. Pelé nunca escondeu sua simpatia pelo Vasco, tendo sido um torcedor vascaíno durante a sua infância em Bauru. Quis o destino que Ele vestisse a camisa do Vasco no início da sua carreira, em junho de 1957, em três partidas no Maracanã, e melhor ainda, que marcasse um gol no Flamengo. Naquela ocasião, um combinado Vasco-Santos disputava um torneio amistoso internacional com partidas no Rio e em São Paulo. Este torneio acabou suspenso devido aos prejuízos financeiros. O Combinado Vasco-Santos atuou quatro vezes, as três primeiras no Rio com o uniforme do Vasco e a última em São Paulo com o uniforme do Santos. Na estréia, Pelé marcou três gols na vitória por 6 a 1 contra o Belenenses. A seguir, dois empates, contra o Dínamo Zagreb e Flamengo, ambos pela contagem de 1 a 1, e em ambas as oportunidades Pelé marcou para o Combinado. Na última partida, em São Paulo, o Combinado voltou a empatar por 1 a 1, desta feita contra o São Paulo, marcando novamente Pelé.
As atuações de Pelé pelo Combinado Vasco-Santos foram fundamentais para que o então técnico da seleção brasileira, Sílvio Pirilo, decidisse convocá-lo para uma partida do Brasil contra a Argentina, no Maracana, dia 7 de julho de 1957. Foi a estréia do futuro Rei na seleção, aos 16 anos de idade. Ele entrou no segundo tempo no lugar de Del Vecchio e marcou o seu primeiro tento com a camisa canarinho. Mesmo perdendo por 2 a 1, o time brasileiro foi elogiado, e a presença de Pelé foi aclamada.


Garoto Dinamite Explode no Maracanã

Terminava o ano de 1971 e o Vasco fazia uma campanha medíocre no primeiro campeonato brasileiro, quando, num jogo de meio de semana contra o Internacional, no Maracanã, foi lançado na equipe principal pelo técnico Admildo Chirol um garoto de 17 anos. Ele marcou o segundo gol da vitória por 2 a 0 com um petardo da entrada da área e, no dia seguinte, a manchete do Jornal dos Sports dizia em letras garrafais: "Garoto Dinamite Explodiu".
O apelido pegou e o resto é história. Roberto esteve a serviço do Vasco durante mais de 20 anos, com duas breves interrupções. Sua trajetória no futebol brasileiro confunde-se com a do Vasco, constituindo-se em figura fundamental na maioria dos títulos conquistados pelo clube neste período.

A contratação de Tostão

Andava muito mal o Vasco no início da década de 1970. Por isso, já com o campeonato carioca de 1972 em pleno andamento, o passe do jogador tri-campeão mundial Tostão foi adquirido junto ao Cruzeiro mediante a maior quantia até então paga por uma transferência entre clubes brasileiros.
A contratação de Tostão parecia o prenúncio de uma era de glórias, porém no ano seguinte o craque voltou a ter problemas na vista operada, a mesma que quase o havia tirado da Copa de 1970, e acabou tendo que encerrar prematuramente a sua carreira, aos 27 anos.

O campeonato brasileiro de 1974

Na década de 1970, o primeiro título do Vasco foi o do campeonato brasileiro de 1974, que parecia tão impossível face a qualidade individual das equipes adversárias. Mas o Vasco terminou por arrancar o título, exibindo muita garra, coração e conjunto, derrotando o Cruzeiro na decisão por 2 a 1. O gol da vitória histórica foi marcado pelo ponta Jorginho Carvoeiro, que viria a falecer pouco mais de um ano depois. O time contava com uma forte defesa, onde pontificavam o goleiro Andrada e os zagueiros Miguel e Moisés, e uma aplicada meia-cancha jogando em função de Roberto, que tornou-se o artilheiro da competição.

O timaço de 1977

Em 1976 o Vasco venceu a Taça Guanabara, que nesta altura valia como primeiro turno do estadual, e foi vice-campeão estadual, perdendo na prorrogação a final contra o Fluminense. Naquele ano, Roberto formava com Dé a primeira das várias duplas mortíferas de que participou ao longo de sua carreira, e pela primeira vez foi convocado para a seleção, onde foi titular do time que conquistou o Torneio Bi-Centenário nos EUA.
Em 1977, o Vasco reforcou o seu time em todas as linhas com os jogadores Orlando, Geraldo, Dirceu e Ramon, que juntamente com jogadores como Mazzaropi, Abel, Marco Antônio, Zanata e Roberto cumpriram sob a direção de Orlando Fantoni uma empolgante campanha no campeonato estadual. O Vasco venceu ambos os turnos e teve o ataque mais positivo e a defesa menos vazada - apenas 5 gols em 29 jogos, um recorde na era do Maracanã -, inclusive não sofrendo nenhum gol durante todo o segundo turno.
É digno de registro o recorde mundial batido pelo goleiro Mazzaropi: 1.816 minutos sem levar gol, de 18 de maio a 7 de setembro de 1977. Este recorde está de pé até hoje e é reconhecido pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas de Futebol).
Na Copa de 1978, os dois artilheiros da seleção que terminou, invicta, em terceiro lugar foram os cruzmaltinos Roberto e Dirceu. Porém, logo depois da Copa, a forte base do elenco vascaíno começou a ser desfeita, refletindo o êxodo de craques brasileiros para o exterior, que começava a atingir proporções inéditas.

A venda e o retorno de Roberto

Afetado pela venda de alguns de seus principais jogadores, o Vasco passou a experimentar um terrível destino: o de amargar em quase todas as competições que disputava o incômodo posto de segundo colocado. Após ser derrotado na decisão do campeonato brasileiro de 1979 pelo Internacional, iniciaram-se as negociações que culminaram com a venda de Roberto para o Barcelona.
Em meio as crises desse clube e perseguições por parte do técnico Helenio Herrera, Roberto não se adaptou e alguns meses depois já estava de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído. Seu reaparecimento no Maracanã deu-se num jogo inesquecível do campeonato brasileiro de 1980 contra o Corinthians, quando, mais parecendo uma metralhadora, o Dinamite enlouqueceu o Maracanã lotado ao marcar os cinco gols da vitória por 5 a 2 - quatro deles no primeiro tempo.
Apesar de seguida e injustamente desprezado por quantos técnicos que passassem pela seleção brasileira, que sempre tinham os seus prediletos para a sua posiçao, principalmente quando chegava a época da Copa, Roberto continuava cumprindo brilhantemente a sua tarefa de marcar gols, tendo conquistado várias vezes a artilharia das competições. Porém o clube continuava vítima do estigma de vários vice-campeonatos estaduais e outro vice-campeonato brasileiro, em 1984. A exceção foi o campeonato estadual de 1982, quando o Vasco reuniu talento, determinação e a corajosa decisão do técnico Antonio Lopes de substituir cinco titulares para superar na final o eterno rival Flamengo, que contava com um forte elenco que havia ganho sucessivos títulos na epoca.

O bicampeonato estadual 1987/88 e a trajetória de Romário

Em 1985, subiu para equipe profissional do Vasco um baixinho invocado com toda a pinta de ser o sucessor de Roberto, e os dois formaram uma das duplas mais diabólicas que já militaram no futebol carioca - a dupla "Ro-Ro", que liderou a relação de artilheiros em 1986 e 1987.
Apesar de obter a melhor campanha durante o estadual de 1986, o Vasco, depois de vencer a Taça Guanabara, acabou perdendo a decisão de um campeonato em que não faltaram denúncias de compra de juízes por parte de dirigentes rubronegros - o famoso caso das "papeletas amarelas". Como sempre, tudo acabou esquecido e por esclarecer.
Porém, no campeonato carioca de 1987, o Vasco foi implacável. Mais uma vez o time de melhor campanha e possuindo o ataque mais positivo, o Vasco afinal fez prevalecer a justiça numa memorável final contra o Flamengo, com um gol de Tita concluindo um passe de Roberto. Tiveram atuações destacadas ao longo de todo o campeonato Acácio, Mazinho, Dunga, Geovani e Tita, alem, é claro, da dupla "Ro-Ro". Basta dizer que os três maiores artilheiros do campeonato foram Romário com 16 gols, Roberto com 15 e Tita com 12.
No ano seguinte, reforçado pelas revelações dos juniores Sorato e Bismarck, o Vasco conquistou o bicampeonato, em que não faltou uma memorável sequência de quatro vitórias sobre o Flamengo, coroadas com um golaço do obscuro reserva Cocada, que selou o título. No dia seguinte a decisão, as vendas de cocada preta na cidade seguramente bateram todos os recordes.
Entre 1987 e 1989, o Vasco também venceu os significativos torneios internacionais Troféu Carranza (tri em 1987/88/89), na Espanha, e a Copa de Ouro (1987), em Los Angeles.
Após o bicampeonato estadual de 1987/88, o time foi desfeito, para não perder o costume, com o tradicional êxodo de jogadores para a Europa, inclusive Romário. Vale a pena mencionar os números impressionantes de Romário nessa que seria a primeira de três períodos jogando pelo Vasco: Artilheiro dos campeonatos cariocas em todas as categorias desde o infantil ao profissional, num total de 165 gols em 301 jogos (116 gols pela equipe profissional), campeão juvenil em 1983, junior em 1984 e profissional em 1987/88.

A contratação de Bebeto e o campeonato brasileiro de 1989

Com o dinheiro arrecadado com a venda de Romário, Geovani e varios outros jogadores para o exterior, o Vasco tirou de maneira espetacular Bebeto do Flamengo, com quem o jogador estava em litígio, ao depositar na federação a quantia equivalente ao seu passe.
Com Bebeto e outros reforços, o Vasco sagrou-se em 1989 campeão brasileiro pela segunda vez, derrotando o São Paulo na final em pleno Morumbi por 1 a 0, gol de Sorato.

Os números da carreira de Roberto e a sua despedida

Ainda em 1988, Roberto havia sofrido uma grave contusão muscular que o afastou do campeonato carioca na terceira rodada. Muitos previam o final da sua carreira, aos 34 anos. Depois de lenta recuperação e de passar duas temporadas emprestado a Portuguesa de Desportos e ao Campo Grande, retornou ao Vasco em grande estilo para liderar a equipe em 1992, na conquista que daria início ao tão almejado tricampeonato carioca. Melhor ainda, de maneira invicta.
Roberto encerrou sua bela carreira triunfalmente como o maior goleador da história do Vasco, com 698 gols em 1110 partidas. No total da sua carreira, marcou 744 gols em 1201 partidas, sendo o sexto maior goleador do futebol brasileiro em todos os tempos. É o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, com 190 gols acumulados (181 deles pelo Vasco). Na seleçao, marcou 26 em 49 jogos, com uma média, portanto, de 0,53, superior a de qualquer centroavante seu contemporâneo.
O jogo de despedida de Roberto foi contra o Deportivo La Coruña, que havia contratado Bebeto, em março de 1993 no Maracanã. A derrota por 2 a 0 também marcou a perda da longa invencibilidade cruzmaltina, de 32 jogos durante seis meses.

1992-1998

O tricampeonato estadual 1992/93/94

O campeonato estadual invicto de 1992 foi conquistado até com uma certa facilidade, mesmo com o time sentindo a falta de Bebeto, vendido antes do início da competição ao Deportivo La Coruña. No primeiro turno, o Vasco terminou com dois pontos de vantagem, e no segundo, com seis, tendo assegurado o título com duas rodadas de antecedência.
Nos dois anos seguintes, a disputa foi mais dura, e o Vasco teve que decidir contra o Fluminense em ambas as ocasiões: Em 1993, numa melhor de quatro pontos, em que o time estava muito desfalcado mas mesmo assim garantiu o bicampeonato num empate sem gols na partida final, com Bismarck ainda perdendo um pênalti. Em 1994, na última rodada do quadrangular final, novamente venceu o mesmo adversário, que outrora fora sempre tão dificil de superar, por 2 a 0. O fiel da balança estava se invertendo, com o antigo algoz se tornando freguês. O Vasco, que já havia vencido mais uma vez o Flu na partida decisiva da Taça Guanabara com uma goleada de 4 a 1, permaneceu invicto até quatro partidas antes do fim do campeonato, quando sofreu o que viria a ser a sua única derrota numa partida contra o Flamengo, com uma arbitragem muito contestada e os jogadores ainda traumatizados pelo falecimento do jogador Dener num acidente automobilístico dias antes. Dener, uma das grandes revelações do futebol brasileiro, havia sido emprestado ao Vasco pela Portuguesa de Desportos no início do ano.
Infelizmente, quando o Vasco iniciava mais um período de hegemonia no futebol carioca em 1992, este já mostrava os efeitos dos muitos anos de administração do nefasto "Caixa D'Água", da incompetência e falta de caráter dos seus cartolas, num país onde a política do futebol não deixa de ser um reflexo da sociedade em geral. Nenhum jogo do campeonato estadual de 1992 pode ser disputado no Maracanã interditado, abandonado e caindo aos pedaços. O público pagante diminuia, desanimado não só pelos problemas crônicos de falta de segurança nos estádios, falta de organização do calendário e denúncias de corrupção, mas sobretudo pelo súbito enfraquecimento técnico dos clubes.
A bem da justiça, diga-se que o Vasco, apesar de também ter dilapidado o seu elenco a exemplo dos outros clubes, foi todavia o que continuou a revelar mais talentos, além de realizar contratações significativas. Durante a campanha do tricampeonato, foram revelados jogadores do quilate de Valdir, Edmundo (vendido após ter sido o craque do campeonato de 1992), Carlos Germano, Pimentel, Leandro, Yan e Gian, e contratados Luisinho, Ricardo Rocha e o tragicamente falecido Dener. Assim, o tricampeonato foi a consequência inevitável da diferença de categoria entre a equipe do Vasco e as demais.

Jogadores de aluguel, técnicos "prestigiados"

Depois do tricampeonato estadual, seria lógico que o Vasco partisse para conquistas de alcance maior. Para isto teria que manter o elenco e reforcar o plantel nas posições carentes. No entanto o que se viu foi o oposto: Por um lado o elenco ia sendo dilapidado a precos camaradas; por outro, uma série de jogadores de qualidade duvidosa, para não dizer inúteis, cujos nomes nem vale a pena lembrar aqui, passaram a ser alugados de empresários por quantias relativamente absurdas. Transações certamente vantajosas para os empresários dos jogadores, e sabe lá quem mais, mas prejudiciais ao clube.
Deste modo, não se constituíram em surpresas as campanhas medíocres no campeonato estadual de 1995 - quando o Vasco deveria estar tentando o tetracampeonato - e no estadual de 1996, nem as piores colocações obtidas até então pelo clube na história dos campeonatos brasileiros. Os treinadores, que nestas ocasiões são sempre os bodes expiatórios, passaram a não esquentar lugar em São Januário: foram nada menos de quatro técnicos em 1995 e cinco em 1996. O ano seguinte seria de eleições, a política interna começava a ferver e a torcida fazia protestos contra a administração do clube.
Porém houveram algumas exceções a estas tendências, que fizeram com que o Vasco escapasse deste cenário sinistro, que lembrava um pouco as fases passadas na década de 1960. No meio de tantas péssimas contratações, umas poucas acabaram sendo acertadas. Em 1995, o passe de Juninho, da seleção brasileira de juniores, foi comprado do Sport Recife. Em meio ao campeonato brasileiro de 1996, foi contratado o meia Ramon, eficiente jogador que estava há alguns anos na Europa. Mas a melhor contratação, que devolveu ao Vasco o ídolo que a torcida precisava desde a saída de Valdir para o São Paulo, foi a volta de Edmundo. Depois de continuar se destacando no Palmeiras, ele havia passado duas temporadas muito ruins no Flamengo e no Corinthians. Quase no fim de 1996, com o clube claudicando no campeonato brasileiro, a volta de Edmundo foi concretizada, e ele logo demonstrou do que era capaz ao marcar três gols numa goleada por 4 a 1 sobre o Flamengo.
Mesmo com Edmundo, o elenco ainda deixava a desejar. Após mais uma campanha medíocre no bagunçado campeonato estadual de 1997, a diretoria concluiu que a única chance de ser reeleita para o importante mandato do centenário do clube seria formar um time forte, capaz de ser um real candidato ao campeonato brasileiro. Consequentemente, as negociatas com empresários de jogadores foram substituídas, pelo menos temporariamente, por contratações responsáveis, ainda que por empréstimo, visando a preencher as posições carentes do time. Outra decisão acertada foi a de interromper o círculo vicioso das trocas sucessivas de técnicos e deixar que o trabalho do técnico pudesse usufruir de continuidade. Como não acontecia há mais de dez anos, finalmente o Vasco atravessaria alguns anos tendo um único técnico, Antônio Lopes.

O terceiro título brasileiro

O Vasco começou sua participação no campeonato brasileiro de 1997 com um elenco reformulado, mas mesmo assim não havia muita gente que lhe atribuísse o mais ligeiro favoritismo. Ainda mais que o clube também teria que disputar em paralelo a Supercopa dos Campeões Sul-Americanos, devido ao reconhecimento oficial, por parte da Confederação Sulamericana, do histórico título do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões de 1948. Mas os reforços que chegavam a São Januário vinham cair como uma luva na equipe, que ia sendo armada na surdina pelo técnico Antonio Lopes. Depois de anos, o Vasco voltava a ter uma equipe guerreira, com uma defesa sólida, um meio campo a um tempo combativo e criativo e um ataque temível.
Estas características não se formaram instantâneamente. No início da competição, faltava entrosamento e padrão de jogo à equipe, além de haver o problema da renovação de contrato do grande goleiro Carlos Germano e uma contusão de lenta recuperação de Juninho. Por isso o Vasco começou perdendo pontos nas duas primeiras partidas. Mas não tardou e a equipe começou a vencer e a subir na tabela de classificação. Vários jogadores se destacavam, a começar pelo goleiro Márcio, que de terceiro reserva passava a suprir brilhantemente o desfalque temporário de Carlos Germano. Odvan e Mauro Galvão se firmaram como parceiros ideais de zaga, onde a vitalidade e simplicidade do primeiro eram um complemento perfeito à experiência e classe do segundo. O lateral esquerdo Felipe, revelação dos juniores, demonstrava muita habilidade e eficiência no apoio. O meio-campo unia a tenacidade de Luisinho e Nasa na marcação à habilidade de Juninho e Ramon na criação de jogadas. No ataque, Evair cumpria com abnegação uma função tática à qual não estava acostumado, de recuar e abrir espaços. Mas o principal fator de desequilíbrio era mesmo Edmundo, que a cada partida parecia mais impossível de ser marcado.
Os adversários faziam de tudo para parar o genial artilheiro. Dentro de campo, eram as provocações para queimar o seu notório pavio curto; fora de campo, a imprensa não perdia uma oportunidade para alardear declarações polêmicas do jogador, ou lembrar, sem motivo, suas antigas rixas com Evair, que havia sido seu parceiro de ataque no Palmeiras. Às vezes as provocações funcionavam, como na partida contra o América de Natal, no Rio Grande do Norte, em que Edmundo acabou expulso e, na saída, muito irritado, declarou que "o Vasco vem jogar na Paraíba e botam um Paraíba para apitar". Depois deste incidente, explorado fora de proporções pela imprensa, Edmundo decidiu não conceder mais entrevistas e declarações. Talvez por isso seu futebol cresceu ainda mais e seu comportamento disciplinar passou a ser muito bom. Enquanto Edmundo ia acumulando gols, o Vasco ia acumulando vitórias, e quem não gostava tinha que engolir.
Numa noite de quarta-feira em São Januário, o Vasco goleou por 6 a 0 ao lanterna Uniao São Joao, com todos os gols marcados por Edmundo, que assim quebrou o recorde do campeonato brasileiro, de maior gols numa única partida, que era de Roberto Dinamite e Ronaldo, empatados, com cinco. Mais além, ele quebraria outro recorde, o de maior artilheiro em um campeonato brasileiro com 29 gols, superando a Reinaldo, que em 1978 havia marcado 28.
Depois de uma inesperada goleada sofrida na Supercopa para o River Plate, em Buenos Aires, por 5 a 1, os jogadores vascaínos passaram a mostrar ainda mais união e determinação no campeonato brasileiro e, ao fim da primeira fase, o Vasco obteve uma sequência categórica de bons resultados que passavam a credenciá-lo aos olhos da torcida como principal candidato ao título. Invicto em jogos no Rio, o time garantiu antecipadamente o primeiro lugar na primeira fase, apresentando a melhor campanha, o melhor ataque, o artilheiro e o melhor jogador do campeonato. A melhor campanha lhe assegurava a vantagem de poder terminar empatado na classificação na fase semifinal para passar a final, e nesta, a vantagem do empate no placar global, o que acabou sendo decisivo.
Dos outros sete clubes classificados para a fase semifinal, o Vasco tinha derrotado a cinco na primeira fase - Internacional, Atletico-MG, Portuguesa, Flamengo e Palmeiras -, empatado com o Juventude e perdido apenas para o Santos. Na fase semifinal, o Vasco continuou demonstrando a sua superioridade. Começou vencendo o Juventude fora de casa. A seguir, empatou em 1 a 1 com o Flamengo, um resultado favorável, levando-se em consideração a vantagem do empate na classificação, mas que foi comemorado pelos adversários como uma vitória. Foi dito que o Vasco havia sido amarrado com um "nó tático" e passaram a relembrar a eliminação do Vasco pelo próprio Flamengo no campeonato brasileiro de 1992. Tudo ilusão de quem no fundo sabia que não tinha time suficiente. Enquanto o Vasco, com uma tremenda pinta de campeão, vencia a perigosa Portuguesa no Maracanã e repetia a dose no Morumbi, o Flamengo perdia bisonhamente para o Juventude em Porto Alegre. Mesmo que o Vasco perdesse a próxima partida para o Flamengo, bastaria uma vitória sobre o Juventude no Maracanã na última rodada para passar à final, independente do resultado de Portuguesa x Flamengo em São Paulo.
Foi nessa situação desesperadora que o Flamengo entrou em campo, com a obrigação de atacar a qualquer custo. O técnico Antônio Lopes então, tranquilamente, posicionou o time para explorar os contra-ataques, e no final não deu outra: Vasco 4 a 1, com três gols e nova atuação de gala de Edmundo, numa aparente repetição do resultado do ano anterior. Com a diferença que, naquela ocasião, ambas equipes já não tinham nenhuma aspiração no campeonato, e nesta, o resultado valia a classificação antecipada do Vasco na final. O terceiro gol de Edmundo, um golaço digno de antologia, foi inclusive o que quebrou o recorde da artilharia dos campeonatos brasileiros.
Depois desta goleada histórica, a torcida vascaína estava de alma tão lavada, que dizia-se (retoricamente) que não era nem preciso o Vasco fazer mais nada no campeonato. E realmente o Vasco não venceu as três partidas que lhe restavam. Mas nem era preciso. Depois do empate do time reserva com o Juventude, só para cumprir tabela, o Vasco chegava a final contra o Palmeiras, o vencedor do outro grupo, com a vantagem da igual diferença de gols, e foi o que aconteceu. A primeira partida, no Morumbi, e a segunda, no Maracanã, foram durissimas mas, com dois empates sem gols, o Vasco conquistou o seu terceiro título brasileiro, com todo o merecimento.
Chegava assim o Vasco ao ano do seu centenário laureado como campeão brasileiro, com uma oportunidade de tentar vencer a Copa Libertadores e sonhar com o Mundial de Clubes em Tóquio. Infelizmente, todavia, sem Edmundo, que deixava o Vasco rumo à Itália, para jogar pela Fiorentina.

As glórias do centenário

Quando começou 1998, ano em que o Vasco comemoraria o centenário da sua fundação, havia uma grande expectativa em relação ao desempenho esportivo do clube, tanto por parte de sua torcida, como das torcidas adversárias. Ainda estava bem fresco na memória dos torcedores cariocas o que havia se passado com um certo clube três anos antes, quando o seu presidente havia prometido "ganhar tudo no centenário". Como se sabe, o que acabou sucedendo foi um total fracasso. Em vez do "ano do centenário", o clube do presidente fanfarrão teve que se contentar com o "ano do sem-ter-nada". Obviamente, o Vasco não queria passar pelo mesmo vexame, e dedicou-se de corpo e alma a estruturar-se para o sucesso, não só no futebol, como em todos os esportes. E, para felicidade geral de milhões de vascaínos, o ano do centenário do clube veio a ser um dos mais vitoriosos de sua história. Em todos os esportes, foram conquistados títulos significativos, entre os quais podemos orgulhosamente destacar o campeonato estadual e Troféu Brasil de remo, o Sul-Americano de basquete, o estadual de handebol, campeonatos estadual e brasileiro de futebol feminino, e, no futebol, as conquistas da Taça Guanabara, Taça Rio, Campeonato Estadual e Copa Libertadores.
Com o objetivo de suprir as ausências de Edmundo e Evair, que haviam deixado a equipe, o Vasco fez contratações de peso para o seu ataque, trazendo Donizete e Luizão, jogadores com passagem pela seleção brasileira. O resto do time continuou sendo a mesma base da campanha do Campeonato Brasileiro de 1997. Para o Estadual de 1998, a disparidade entre a força do Vasco e os demais era tão aparente, que estes não tiveram escrúpulos em recorrer a manobras incríveis para tentar esvaziar a competição e deslustrar o inevitável título vascaíno. Recorreram até à molecagem de não comparecer a campo, sob o pretexto de estarem protestando contra algumas transferências de datas que o Vasco necessitava para evitar colisões com compromissos pelas Copas do Brasil e Libertadores. Naturalmente fingiam que se esqueciam que a confusão do calendário foi culpa deles próprios, que tinham exigido a compressão da tabela do estadual para que pudessem se dedicar exclusivamente ao Torneio Rio-São Paulo. Enfim, o fato é que, as vitórias por WO tornaram a tarefa do Vasco ainda mais fácil, e o clube tratou de conquistar com algumas rodadas de antecedência os títulos da Taça Guanabara e Taça Rio e, consequentemente, do Campeonato Estadual, sem precisar de uma final.
Na Copa do Brasil, o time acabou não conseguindo sua classificação para a final, caindo na semifinal para o Cruzeiro. Porem a atenção de todos voltava-se para a Copa Libertadores. O início da campanha não fora alentador, com o time conquistando apenas um ponto em três partidas fora de casa. Os adversários no grupo eram Guadalajara e América, do México, e o Grêmio. Nas três partidas de volta, todas em São Januário, o Vasco não podia pensar em perder para se classificar. De fato, a classificação foi alçancada com duas vitórias indiscutíveis sobre o Gremio por 3 a 0 e sobre o Guadalajara por 2 a 0, e com o simples empate com o América, na ultima partida, o Vasco se classificou em segundo lugar no grupo. A partir daí, o time embalou na competição e consecutivamente eliminou a Cruzeiro e Grêmio, campeões da Libertadores nos dois anos anteriores, e enfrentaria na semifinal o River Plate, apontado como a melhor equipe do continente e favorito para o título. Foi um confronto de proporções épicas. Após superar a equipe argentina por 1 a 0 em São Januário, o Vasco arrancou um empate em 1 a 1 no Monumental de Nuñez, sob intensa pressão, graças a um golaço de Juninho, que havia entrado como substituto, numa magnífica cobrança de falta de longa distância, faltando oito minutos para o fim da partida. A final seria contra o Barcelona, de Guayaquil, em agosto, exatamente o mês em que as celebrações pelo centenário atingiam o clímax. A primeira partida foi um passeio em São Januário, e o placar de 2 a 0, com gols de Donizete e Luizão, saiu barato para os equatorianos. Mesmo assim, criou-se no Equador um clima de guerra para a segunda partida, e a torcida do Barcelona, até mesmo com uma certa dose de ingenuidade, acreditava que podia superar a vantagem vascaína. Mas na medida em que suas esperanças eram destruídas dentro do campo pelos craques vascaínos, que ao final do primeiro tempo já haviam marcado 2 a 0, novamente por intermédio de Luizão e Donizete, os frustrados equatorianos nas arquibancadas do belíssimo Estádio Monumental de Guayaquil passaram a agredir os torcedores vascaínos presentes. Porém, no final, prevaleceu a alegria dos vascaínos, pois com o resultado final de 2 a 1 podiam comemorar a inédita conquista da Copa Libertadores. Era mais um título sul-americano para o Vasco, numa repetição do que havia acontecido 50 anos antes em Santiago do Chile. Houve uma grande carreata na volta da delegação ao Rio, com milhares de vascaínos desfilando pela cidade, do aeroporto à Zona Sul e terminando em São Januário, a festejar o centenário, a conquista e seus heróis.
Depois disso, a partida em Tóquio contra o campeão europeu, o Real Madrid, valendo o título mundial de clubes, passou a ser a prioridade. A equipe se apresentou no Campeonato Brasileiro com sucessivos desfalques - sendo o mais sério o de Pedrinho, que sofreu uma gravíssima lesão no joelho após uma entrada violenta de um zagueiro do Cruzeiro -, enquanto que, na Copa Mercosul, o Vasco foi representado pelo Expressinho. Em ambas as competições, não conseguiu classificação para as fases decisivas. De qualquer forma, a estratégia previamente traçada era embarcar rumo a Tóquio tão somente terminasse a fase de classificação do Brasileiro, para poder se aclimatar e se acostumar com a diferenca de fuso horário no Japão. Desta maneira, mesmo que tivesse obtido a classificação entre os oito primeiros - e esta só escapou por causa de um empate com o Goiás na última rodada - o Vasco teria que utilizar o Expressinho nas play-offs.
A caminho de Tóquio, o Vasco ainda fez uma escala nos EUA, para um compromisso contra o DC United valendo a Copa Inter-Americana, que anualmente reune os campeões das Copas Libertadores e da Concacaf. Na primeira partida, em Washington, o Vasco venceu por 1 a 0 e a segunda partida se realizaria durante a volta de Tóquio ao Rio. O resultado positivo serviu para aumentar mais a motivação para o confronto contra o Real Madrid. Os vascaínos tinham motivos para estarem confiantes, pois teriam 10 dias para treinar e se condicionar para o confronto, enquanto que o campeão europeu, que chegaria na antevéspera da partida, vinha cumprindo uma campanha de altos e baixos no campeonato espanhol, exibindo a cada jogo pontos vulneráveis na sua defesa. Lamentavelmente, quando a bola rolou, a equipe cruzmaltina não soube impor um estilo de jogo ofensivo, que explorasse as deficiências da zaga adversária, e concedeu a iniciativa da partida aos espanhois. Passou o primeiro tempo sendo sufocada pelo adversário e acabou tomando um gol contra numa cabeçada de extrema infelicidade do cabeça-de-área Nasa. A reação parecia estar a caminho no segundo tempo, quando o Vasco equilibrou a partida, alcançou o empate num gol de Juninho, e partiu para cima do Real Madrid. Esteve a ponto de marcar, porem acabou tomando o segundo gol num contra-ataque, e não teve mais tempo para se recuperar. A perda do título mundial abateu os jogadores e, quatro dias depois, um Vasco apático foi derrotado pelo DC United por 2 a 0 em Fort Lauderdale, consequentemente deixando de ganhar também a Copa Inter-Americana. Uma conclusão triste, que os vascaínos não mereciam, de um ano que até então havia lhes sido tão generoso em alegrias.